Carta de Brasilia - 2011

CARTA DE BRASÍLIA

Dionísio é a principal referência de divindade associada ao teatro ocidental, um semi-deus gestado em dois diferentes corpos, nascido duas vezes, homem e animal. Um mito associado à ideia de metamorfose, rito, e, sobretudo, gerador de encontros.

É nessa perspectiva de gestar o mesmo de uma nova forma, assegurar na prática cotidiana o espaço para a diversidade e crer nessa diferença como possibilidade de seguir construindo um Movimento que consiga, ao menos em parte, ecoar a voz daqueles que se identificam por formas coletivas e continuadas de criação teatral, que 14 grupos teatrais de oito estados (CE, DF, MT, MG, PR, RN, RS e SP) reuniram-se em Brasília, acolhidos pelo Teatro do Concreto e pela Faculdade Dulcina de Moraes.

Em dois dias de reunião cultivaram novamente um desejo comum: reestruturar o Movimento Redemoinho, em suspensão desde seu último encontro no ano de 2009, em Salvador. Após fazer reverberar nacionalmente essa vontade, já somos 43 grupos teatrais de 15 estados, com a certeza de que muitos outros ainda se juntarão a nós. Estamos unidos pela constatação da urgente necessidade de restabelecer um espaço de construção do pensamento coletivo e de representação no campo das políticas públicas para o teatro brasileiro.

Essa mirada no presente, para o passado e o futuro, restaurou nosso senso de pertencimento. De norte a sul, todos os ventos, com ritmos e velocidades diferentes num mesmo Redemoinho gerador de sinergia e movimento. Mais que uma reunião de pessoas, este é um espaço privilegiado de diálogo, reflexão, compartilhamento e construção de conhecimento alicerçado na compreensão da dimensão pública da cultura e no combate à mercantilização da vida humana e dos seus processos de produção simbólica.

Reafirmamos com isso os princípios ideológicos desse Movimento, expressos em seu manifesto de fundação e, a partir daqui, estabelecemos novas formas de organização sob a perspectiva polifônica e horizontal que rege nossa prática artística.

Ao longo de quatro anos o Redemoinho fez ecoar nacionalmente gritos de luta que compuseram um coro representante da imensa diversidade do teatro de grupo brasileiro. Resgatar a potência desse encontro de vozes, que tenha na articulação política regional o alimento de suas ações coletivas, é o tom desta retomada. Isso significou pensar um pouco mais sobre aquilo que nos une e sobre as necessidades que se inscrevem num difuso e novo contexto social e político.

Definitivamente pertencemos ao teatro de grupo, um modo de produção coletivo que sobrevive na contramão de uma sociedade do individualismo e da competitividade. Nascer de novo é repensar identidades. Rebatizamos o movimento para Redemoinho - Movimento Brasileiro de Teatro de Grupo, explicitando já em seu nome o desejo de retomar seus objetivos de lutas políticas.
Nosso Redemoinho é desejoso dos distintos ventos que formam um país de dimensões continentais. Nos reconhecer como Movimento nacional significa alterar rotas, eixos, itinerários e hegemonias. Mais que saber de outras regiões implica ser atravessado por elas e encarar as contradições que desenham nosso fragmentado espelho de país. Para simbolizar essa busca por dialogar com nossos diferentes brasis, o VI Encontro Nacional do Redemoinho 2012 será realizado em Alta Floresta, Mato Grosso, estado que agrega floresta, cerrado, pantanal, metáfora de diversidades, referencial para novos pontos de vista.

A atuação do Movimento Redemoinho, nesse momento, seguirá lutando pela aprovação do Prêmio de Fomento ao Teatro Brasileiro, vinculado ao projeto de Lei ProCultura - a possível garantia histórica de um novo modelo de financiamento público para a produção teatral também caracterizada por dimensões públicas.

Nesses dois dias de encontro em Brasília, choveu. Talvez, a necessária água que mantêm a vida, que explode de verde aquilo que antes estava seco e árido. Água que rega a esperança numa cidade nascida sob o signo da contradição e da utopia. Utopia que rega a nossa necessidade de fazer arte e regar outro modelo possível de nação.

Brasília, Dezembro de 2011.

REDEMOINHO – MOVIMENTO BRASILEIRO DE TEATRO DE GRUPO
A Outra Companhia de Teatro – Salvador – BA;
Algazarra Teatral – São Paulo – SP;
Associação No Ato Cultural– Belo Horizonte – MG;
Cia Arteatro - Boa Vista – RR;
Cia Daqui – Brasília – DF;
Cia de Teatro Fábrica – São Paulo – SP;
Cia do Feijão – São Paulo – SP:
Cia do Miolo – São Paulo – SP;
Cia Stravaganza – Porto Alegre – RS;
Coletivo Angu de Teatro - Recife – PE;
Coletivo Atores à Deriva – Natal – RN;
Coletivo de Teatro Alfenim – João Pessoa – PB;
Companhia de Teatro Insurgente - São Paulo – SP;
Companhia Pop de Teatro Clássico - Rio de Janeiro – RJ;
Companhia Prisma de Artes – Fortaleza - CE;
Dramática Companhia - Belém – PA;
Engenho Teatral - São Paulo – SP;
ERRO Grupo - Florianópolis – SC;
Espaço Cênico – Curitiba – PR;
Grupo Bagaceira de Teatro – Fortaleza – CE;
Grupo Celeiro das Antas – Brasília – DF;
Grupo Clowns de Shakespeare – Natal – RN;
Grupo Cuíra do Pará - Belém – PA;
Grupo Elenco de Ouro – Curitiba – PR;
Grupo Folias – São Paulo – SP;
Grupo Magiluth – Recife – PE;
Grupo Obragem de Teatro – Curitiba - PR;
Grupo Off-Sina Circo Teatro de Rua – Rio de Janeiro - RJ;
Grupo Teatral Manjericão – Porto Alegre – RS;
Grupo Teatro Andante - Belo Horizonte – MG;
Grupo Redimunho de Investigação Teatral - São Paulo – SP;
Grupo Teatro Invertido – Belo Horizonte – MG;
GTU - Grupo de Teatro Universitário - Belém – PA;
Grupo Vilavox– Salvador – BA;
Grupo XIX de Teatro – São Paulo – SP;
IMPULSO Coletivo – São Paulo – SP;
IVO 60 – São Paulo – SP;
Tablado de Arruar – São Paulo – SP;
Teatro do Concreto – Brasília – DF;
Teatro Experimental de Alta Floresta – Alta Floresta – MT;
Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz – Porto Alegre – RS;
Trupe Artemanha de investigação urbana - São Paulo – SP;
Teatro Kaus Cia Experimental - São Paulo- SP;
Usina Contemporânea de Teatro - Belém – PA.

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